por Vitor Rebello
Hoje é dia de peleja. A vigésima oitava rodada do campeonato brasileiro de futebol 2011 promete muito neste domingão de outubro: Fla x Flu, o clássico que nasceu quarenta minutos antes do nada, e a disputa por quem continuará brigando pelo título. Assim, para homenagear esta que é a mais charmosa peleja do mundo esportivo, apresentamos os “melhores momentos” do folheto A discussão do Pó-de-arroz com o urubu e uma breve análise do Fla Flu, de autoria de J. Victtor.
Pois, este folheto de J. Victtor se mostra curioso desde sua configuração métrica. Isto porque, antes de iniciar a peleja, propriamente dita, o narrador realiza um preâmbulo do clássico (o famoso pré-jogo) alternando décimas (estrofes com 10 versos) e setilhas (estrofes com 7 versos). Vejamos:
Em qualquer campo do mundo
O coração do povo explode
Não se sabe como pode
Um êxtase tão profundo
De um esporte que é fecundo
Sob intensa energia
Movido pela magia
De cantos oscilantes
Dos mais diversos semblantes
Que precedem alegria.
Resolveu o futebol
Adotar nosso Brasil
Para encher de estrelas
Nossa esfera azul de anil
Aqui nasceu Rei Pelé
Nasceu também o Mané
Nessa terra varonil.
(…)
Bola, trave, travessão
Cabeçada e gol de placa
Passe e drible da vaca
Corner e também balão
Chute forte é canhão
Juiz entra com apito
Torcida ganha no grito
Grande área, impedimento
As vezes um estendimento
Craque sempre vira mito.
A cidade está em festa
Muitos cantam a vitória
O jogo tem muito charme
Nasceram perto da Glória
Um é pai, o outro é filho
Desde o bonde sobre trilho
Já fizeram muita história.
Glamouroso este combate
Move as mais diversas penas
Jornalistas mostram cenas
De um provável cheque-mate
Ou apenas um empate
As notícias correm as bancas
Nos jornais têm as estampas
Há histeria na cidade
Frênese, frisson e alarde
Evocam todos, as lembranças.
Fizeram então os deuses
Deste jogo o principal
Um é Fla o outro é Flu
Até isso é magistral
Extremamente inigualável
Só no Rio é palpável
Clássico sensacional.
Após a introdução, finalmente começa a discussão entre os dois mascotes. Esta, em estrofes com 7 versos.
(…)
Pó-de-arroz Minha origem é a fidalguia
No meu nome tem inglês
Venho de uma linhagem
Bebo wisky escocês
Quando entro pra jogar
De branco pra desfilar
Sou notado toda vez
Urubu Então pra contrariar
Entro de vermelho e preto
Ciscando e gingando
Balançando o esqueleto
Uniforme fica sujo
Mas assim eu sobrepujo
Como a bola com espeto
Pó-de-arroz O meu canto está no hino
Tricolor de coração
Sou do time tantas vezes
Tantas outras campeão
Jogava no meu estádio
Refinado como um sábio
Com a bravura de um leão
Urubu Eu lembro de Jorge Bem
Pra fazer enaltecer
Canto “Fio Maravilha
Faz mais um pra gente ver”
Desconcerta o zagueiro
Dribla também o goleiro
Faz sucesso na TV.
Pó-de-arroz Quando o tema é decisão
Seu time vira churrasco
Com a taça ali parada
Lanço a mão e logo tasco
Muitas vezes o Assis
Tabelando como quis
Tornou-se o seu carrasco
Urubu Locutor sempre dizia
Que “lobo não come lobo”
Waldir Amaral narrava
Domingo na Rádio Globo
Mas não era o que eu via
No fim, sempre o Flu morria
Tu ficava igual meu sogro
(…)
Pó-de-arroz Você é um mal criado
Sou teu pai, peço respeito
Já bastou fugir de casa
Mas já vi que não tem jeito
Foram os meus jogadores
Todos eles amadores
Que molharam o seu beiço
Urubu Fico então muito frustrado
Me aperta o coração
Tu caiu para a segunda
Foi total decepção
Pra sair do outro mico
Dependeu então do Eurico
Na terceira divisão
Pó-de-arroz Caí para a terceira
Mas no Rio sou o melhor
A minha torcida é chique
Não teme pelo pior
Com grená, verde e branco
Eu ganho em qualquer canto
No maracá sou o maior.
Urubu Veja pobre criatura
Como você é um bobo
Sua torcida já é menor
Que a do pobre Botafogo
Meu escudo é que reluz
No Fla Flu sou mais Jesus
Do início ao fim do jogo.
(…)
Pó-de-arroz Na Copa de 86
Num jogo Brasil e França
Veio um pênalti do céu
Pra nos dar uma esperança
Mas o bichado do Zico
Chutou mal, pagando mico
Não me sai mais da lembrança
Desde a Copa de 70
Nenhum jogador do Flu
Como ele se apresenta
Nem o Branco ou Edmundo
O Romário é o segundo
Mesmo nos anos 80.
(…)
Pó-de-arroz Não me venha com esse papo
Conversinha de cretino
Eu tinha um jogador
Com a canhota era o fino
Dava o drible do elástico
Seu chute era bombástico
Formidável Rivelino.
(…)
Urubu Melhor foi meu lateral
Desfilava no tapete
Apoiando com beleza
Sem sequer dar um cacete
Tabelava com o Zico,
Nunes, Tita e o Lico
Foi o Junior Capacete.
(…)
Pó-de-arroz Convido para conhecer
Pela entrada principal
Minha nobre Laranjeiras
Com vidraças de cristal
Passe a roupa, tome banho
Deixe de ser tão tacanho
O clube é tradicional
Urubu Não me iludo com seu luxo
Pois mentindo sei que estás
Contam uma antiga história
Eu não sei como é capaz
Negro lá antigamente
Inacreditavelmente
Só entrava por detrás
Pó-de-arroz Muitos pobres como tu
Torcem para o tricolor
São um pouco diferentes
Sendo que têm mais amor
Pois pararam pra pensar
Todos foram estudar
Isso sim, é torcedor.
(…)
Urubu Sou raiz, sou brasileiro
Mistura de toda raça
Norte a sul deste Brasil
Sobrevivo à desgraça
O Flamengo me motiva
Como uma locomotiva
Arrastando a cabaça.
Pó-de-arroz Não vejo motivação
Nem sei o que você pensa
O que falam do seu time
É exagero da imprensa
Com disposição e tática
Conhecido como a máquina
O meu Flu é minha crença
Urubu Nem você vai duvidar
Da força da minha camisa
Quando o manto cai no corpo
A nação rompe divisa
Torcida ganha no canto
Você reza para o santo
Encolher sua baliza.
Fim de jogo. Empate. O narrador retoma a palavra e encerra essa discussão interminável, como todas as disputas entre Flamengo e Fluminense.
O céu já escurecia
Entre as nuvens esparças
Como uma ação de graças
O azul se esmaecia
Já caindo na baía
Muitos passos se ouviam
Do estádio eclodiam
Quase num total nirvana
Relembrando todo o drama
Um dia retornariam
Tão difícil de esquecer
A peleja mais amada
O confronto insuperável
A partida mais sagrada
Hóstia que tremeu a rede
Cálice que mata a sede
Da turba em retirada
(…)
Quem já foi a um Fla Flu
Sabe então como é incrível
Este jogo irresistível
No maraca ou em Bangu
Mesmo em Nova Iguaçu
Tudo é sobrenatural
Algo tem de especial
Com chuva, mesmo calor
Tem aroma, tem sabor
Dia assim não tem igual..
E para vocês, quem ganhou essa peleja futebolística?
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