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BBB: Um programa imbecil

Para esse poeta eu tiro meu chapéu

Do Autor Antonio Barreto – Cordelista, natural de Santa Bárbara-BA, residente em Salvador.

informações: estrofes de sete versos e sete sílabas (setilha setissilábica); esquema de rimas: x a x a b b a; acróstico na última estrofe com o nome BARRETO

Curtir o Pedro Bial

E sentir tanta alegria

É sinal de que você

O mau-gosto aprecia

Dá valor ao que é banal

É preguiçoso mental

E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo

Um programa tão ‘fuleiro’

Produzido pela Globo

Visando Ibope e dinheiro

Que além de alienar

Vai por certo atrofiar

A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro

Que está em formação

E precisa evoluir

Através da Educação

Mas se torna um refém

Iletrado, ‘zé-ninguém’

Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão

Lá está toda a família

Longe da realidade

Onde a bobagem fervilha

Não sabendo essa gente

Desprovida e inocente

Desta enorme ‘armadilha’.

Cuidado, Pedro Bial

Chega de esculhambação

Respeite o trabalhador

Dessa sofrida Nação

Deixe de chamar de heróis

Essas girls e esses boys

Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,

Querido Pedro Bial,

São verdadeiros heróis

E merecem nosso aval

Pois tiveram que lutar

Pra manter e te educar

Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal

Com seu discurso vazio.

Pessoas inteligentes

Se enchem de calafrio

Porque quando você fala

A sua palavra é bala

A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil

Carente de educação

Precisa de gente grande

Para dar boa lição

Mas você na rede Globo

Faz esse papel de bobo

Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bienal

Nosso povo brasileiro

Que acorda de madrugada

E trabalha o dia inteiro

Dar muito duro, anda rouco

Paga impostos, ganha pouco:

Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade

Neste momento atual

Se preocupa com a crise

Econômica e social

Você precisa entender

Que queremos aprender

Algo sério – não banal.

Esse programa da Globo

Vem nos mostrar sem engano

Que tudo que ali ocorre

Parece um zoológico humano

Onde impera a esperteza

A malandragem, a baixeza:

Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência

Não são mais valorizadas.

Os “heróis” protagonizam

Um mundo de palhaçadas

Sem critério e sem ética

Em que vaidade e estética

São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética

Nem projeto educativo.

Um mar de vulgaridade

Já tornou-se imperativo.

O que se vê realmente

É um programa deprimente

Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo

“professor”, Pedro Bial

O que vocês tão querendo

É injetar o banal

Deseducando o Brasil

Nesse Big Brother vil

De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço

Mal exemplo à juventude

Que precisa de esperança

Educação e atitude

Porém a mediocridade

Unida à banalidade

Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento

De pessoas confinadas

Num espaço luxuoso

Curtindo todas baladas:

Corpos “belos” na piscina

A gastar adrenalina:

Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo

É de nos “emburrecer”

Deixando o povo demente

Refém do seu poder:

Pois saiba que a exceção

(Amantes da educação)

Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial

Um mercador da ilusão

Junto a poderosa Globo

Que conduz nossa Nação

Eu lhe peço esse favor:

Reflita no seu labor

E escute seu coração.

E vocês caros irmãos

Que estão nessa cegueira

Não façam mais ligações

Apoiando essa besteira.

Não deem sua grana à Globo

Isso é papel de bobo:

Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim

Desse Big Brother vil

Que em nada contribui

Para o povo varonil

Ninguém vai sentir saudade:

Quem lucra é a sociedade

Do nosso querido Brasil.

E saiba, caro leitor

Que nós somos os culpados

Porque sai do nosso bolso

Esses milhões desejados

Que são ligações diárias

Bastante desnecessárias

Pra esses desocupados.

A loja do BBB

Vendendo só porcaria

Enganando muita gente

Que logo se contagia

Com tanta futilidade

Um mar de vulgaridade

Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade

E apelo sexual.

Não somos só futebol,

baixaria e carnaval.

Queremos Educação

E também evolução

No mundo espiritual.

Cadê a cidadania

Dos nossos educadores

Dos alunos, dos políticos

Poetas, trabalhadores?

Seremos sempre enganados

e vamos ficar calados

diante de enganadores?

Barreto termina assim

Alertando ao Bial:

Reveja logo esse equívoco

Reaja à força do mal…

Eleve o seu coração

Tomando uma decisão

Ou então: siga, animal…

Um cordel sobre o natal

Um vídeo muito interessante sobre o natal, inspirado na linguagem dos cordéis. É como os autores dizem:

ESSA SIM É A HISTÓRIA

QUE TODOS DEVEMOS LEMBRAR

QUE EU SAIBA JESUS NÃO ERA GORDO

E DE TRENÓ NÃO COSTUMA ANDAR

E FOI DELE O MAIOR PRESENTE

A SALVAÇÃO QUE VAMOS HERDAR

O nascimento de Jesus

Acervo de cordeis na internet

Retirado do Blog Pesquisa mundi

Cordel digital

Tradição nordestina ganha espaço na rede com obras completas disponibilizadas por instituições. Foto: Reprodução

Popularizada em feiras livres da Região Nordeste do Brasil, onde seus folhetos impressos em papel pardo adornados por xilogravuras ficavam expostos em varais, a literatura de cordel também pode ser acessada via internet. Uma das principais fontes para tal é a Fundação Casa de Rui Barbosa, localizada no Rio de Janeiro. Repositório de literatura popular desde 1989, o órgão disponibilizou parte do acervo de 9 mil folhetos em um site especialmente construído para facilitar o acesso remoto. Segundo Dilza Ramos Bastos, chefe de Serviço de Biblioteca da instituição, o trabalho começou em 2001. Inicialmente, a ideia era divulgar o material por meio de CDs e, depois, migrou para a rede. A digitalização foi uma medida importante para a preservação do próprio acervo, que passou a ser menos manipulado por pesquisadores. “Nós diminuímos a manipulação e facilitamos o acesso à informação visual do texto e das ilustrações”, explica. “Hoje são raros os casos em que precisamos dar acesso direto ao documento.”

A origem exata da literatura de cordel é difícil de ser pontuada. Formas literárias similares são encontradas em outros países, como França, Espanha e Portugal. Os romances ibéricos em versos, oriundos da tradição oral e posteriormente impressos em folhetos, e os desafios improvisados do Nordeste, são indicados por pesquisadores como algumas das forças criadoras do cordel. Surgido na primeira metade do século XIX em Pernambuco e na Bahia, a forma clássica do cordel atingiu o auge da produção entre 1930 e 1960.

Impressos em papel barato, os folhetos de cordel mediam cerca de 12×18 centímetros e possuíam de oito a 32 páginas, ilustradas com imagens reproduzidas de jornais ou xilogravuras. Seus versos rimados relatavam desde temas tradicionais (como os romances de cavalaria medieval) até eventos sociais, econômicos e políticos brasileiros, como o fenômeno do cangaço ou o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954.Um dos primeiros cordelistas a imprimir e vender seus versos foi o paraibano Leandro Gomes de Barros (1865-1918), autor de Peleja de Manoel Riachão com o Diabo, publicado, provavelmente, em 1889. Tal -folheto pode ser lido e impresso na íntegra pelo usuário por meio do site da Fundação Casa de Rui Barbosa (www.casaruibarbosa.gov.br/cordel ).

Outras instituições como a Fundação Joaquim Nabuco, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel e até mesmo a Biblioteca do Congresso norte-americano possuem acervos digitais semelhantes.

Atualmente, existem 2.340 folhetos digitalizados no banco de dados virtual da instituição, inaugurado em julho de 2008. A escolha das obras publicadas na rede procurou obedecer aos critérios de direitos autorais e de raridade. Por causa disso, apenas 25% dos 9 mil folhetos foi disponibilizado para o acesso via internet. O número corresponde aos autores que já caíram em domínio público ou cujos herdeiros autorizaram sua reprodução.

Para o presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, Gonçalo Ferreira da Silva, todos os meios de comunicação acabam se constituindo como novos espaços de produção e divulgação dos cordéis. “Muita gente pensou no início que o rádio de pilha acabaria com a literatura de cordel. Pelo contrário, ele serviu como veículo de divulgação para os cordelistas e repentistas”, reflete o cordelista nascido na cidade cearense de Ipu, em 1937.

Onde encontrar

Fundação Casa de Rui Barbosa
Sem a necessidade de cadastro, é possível folhear e imprimir em baixa resolução os cerca de 2340 cordéis do acervo. No entanto, a mecânica de busca do banco de dados é um pouco complicada.

Academia Brasileira de Literatura de Cordel
Possui um bom acervo de cordelistas contemporâneos, mas disponibiliza apenas capas e os versos em texto, sem a diagramação de um cordel impresso.

Fundação Joaquim Nabuco
Apresenta 41 folhetos de cordel do acervo da instituição na íntegra, em formato pdf.

Biblioteca do Congresso dos EUA
Reúne informações, biografias e imagens de folhetos de cordel.O conteúdo, porém, está em inglês.

Fonte: Carta Capital

O Fla Flu em cordel

por Vitor Rebello

Hoje é dia de peleja. A vigésima oitava rodada do campeonato brasileiro de futebol 2011 promete muito neste domingão de outubro: Fla x Flu, o clássico que nasceu quarenta minutos antes do nada, e a disputa por quem continuará brigando pelo título. Assim, para homenagear esta que é a mais charmosa peleja do mundo esportivo, apresentamos os “melhores momentos” do folheto A discussão do Pó-de-arroz com o urubu e uma breve análise do Fla Flu, de autoria de J. Victtor.

Pois, este folheto de J. Victtor se mostra curioso desde sua configuração métrica. Isto porque, antes de iniciar a peleja, propriamente dita, o narrador realiza um preâmbulo do clássico (o famoso pré-jogo) alternando décimas (estrofes com 10 versos) e setilhas (estrofes com 7 versos). Vejamos:

Em qualquer campo do mundo

O coração do povo explode

Não se sabe como pode

Um êxtase tão profundo

De um esporte que é fecundo

Sob intensa energia

Movido pela magia

De cantos oscilantes

Dos mais diversos semblantes

Que precedem alegria.

Resolveu o futebol

Adotar nosso Brasil

Para encher de estrelas

Nossa esfera azul de anil

Aqui nasceu Rei Pelé

Nasceu também o Mané

Nessa terra varonil.

(…)

Bola, trave, travessão

Cabeçada e gol de placa

Passe e drible da vaca

Corner e também balão

Chute forte é canhão

Juiz entra com apito

Torcida ganha no grito

Grande área, impedimento

As vezes um estendimento

Craque sempre vira mito.

A cidade está em festa

Muitos cantam a vitória

O jogo tem muito charme

Nasceram perto da Glória

Um é pai, o outro é filho

Desde o bonde sobre trilho

Já fizeram muita história.

Glamouroso este combate

Move as mais diversas penas

Jornalistas mostram cenas

De um provável cheque-mate

Ou apenas um empate

As notícias correm as bancas

Nos jornais têm as estampas

Há histeria na cidade

Frênese, frisson e alarde

Evocam todos, as lembranças.

Fizeram então os deuses

Deste jogo o principal

Um é Fla o outro é Flu

Até isso é magistral

Extremamente inigualável

Só no Rio é palpável

Clássico sensacional.

Após a introdução, finalmente começa a discussão entre os dois mascotes. Esta, em estrofes com 7 versos.

(…)

Pó-de-arroz            Minha origem é a fidalguia

                            No meu nome tem inglês

Venho de uma linhagem

Bebo wisky escocês

Quando entro pra jogar

                            De branco pra desfilar

                            Sou notado toda vez

Urubu                   Então pra contrariar

                            Entro de vermelho e preto

                            Ciscando e gingando

                            Balançando o esqueleto

                            Uniforme fica sujo

                            Mas assim eu sobrepujo

                            Como a bola com espeto

Pó-de-arroz            O meu canto está no hino

                            Tricolor de coração

Sou do time tantas vezes

Tantas outras campeão

Jogava no meu estádio

                            Refinado como um sábio

                            Com a bravura de um leão

Urubu               Eu lembro de Jorge Bem

                            Pra fazer enaltecer

                            Canto “Fio Maravilha

                            Faz mais um pra gente ver”

                            Desconcerta o zagueiro

                            Dribla também o goleiro

                            Faz sucesso na TV.

Pó-de-arroz            Quando o tema é decisão

                            Seu time vira churrasco

Com a taça ali parada

Lanço a mão e logo tasco

Muitas vezes o Assis

                            Tabelando como quis

                            Tornou-se o seu carrasco

Urubu               Locutor sempre dizia

                            Que “lobo não come lobo”

                            Waldir Amaral narrava

                            Domingo na Rádio Globo

                            Mas não era o que eu via

                            No fim, sempre o Flu morria

                            Tu ficava igual meu sogro

(…)

Pó-de-arroz            Você é um mal criado

                            Sou teu pai, peço respeito

Já bastou fugir de casa

Mas já vi que não tem jeito

Foram os meus jogadores

                            Todos eles amadores

                            Que molharam o seu beiço

Urubu               Fico então muito frustrado

                            Me aperta o coração

                            Tu caiu para a segunda

                            Foi total decepção

                            Pra sair do outro mico

                            Dependeu então do Eurico

                            Na terceira divisão

Pó-de-arroz    Caí para a terceira

                            Mas no Rio sou o melhor

A minha torcida é chique

Não teme pelo pior

Com grená, verde e branco

                            Eu ganho em qualquer canto

                            No maracá sou o maior.

Urubu               Veja pobre criatura

                            Como você é um bobo

                            Sua torcida já é menor

                            Que a do pobre Botafogo

                            Meu escudo é que reluz

                            No Fla Flu sou mais Jesus

                            Do início ao fim do jogo.

(…)

Pó-de-arroz            Na Copa de 86

                            Num jogo Brasil e França

Veio um pênalti do céu

Pra nos dar uma esperança

Mas o bichado do Zico

                            Chutou mal, pagando mico

                            Não me sai mais da lembrança

Urubu               O Zico foi o maior

                            Desde a Copa de 70

                            Nenhum jogador do Flu

                            Como ele se apresenta

                            Nem o Branco ou Edmundo

                            O Romário é o segundo

                            Mesmo nos anos 80.

(…)

Pó-de-arroz            Não me venha com esse papo

                                    Conversinha de cretino

Eu tinha um jogador

Com a canhota era o fino

                                   Dava o drible do elástico

                                   Seu chute era bombástico

                                    Formidável Rivelino.

(…)

Urubu               Melhor foi meu lateral

                            Desfilava no tapete

                            Apoiando com beleza

                            Sem sequer dar um cacete

                            Tabelava com o Zico,

                            Nunes, Tita e o Lico

                            Foi o Junior Capacete.

(…)

Pó-de-arroz            Convido para conhecer

                            Pela entrada principal

Minha nobre Laranjeiras

Com vidraças de cristal

Passe a roupa, tome banho

                            Deixe de ser tão tacanho

                            O clube é tradicional

Urubu               Não me iludo com seu luxo

                            Pois mentindo sei que estás

                            Contam uma antiga história

                            Eu não sei como é capaz

                            Negro lá antigamente

                            Inacreditavelmente

                            Só entrava por detrás

Pó-de-arroz            Muitos pobres como tu

                            Torcem para o tricolor

São um pouco diferentes

Sendo que têm mais amor

Pois pararam pra pensar

                            Todos foram estudar

                            Isso sim, é torcedor.

(…)

Urubu               Sou raiz, sou brasileiro

                            Mistura de toda raça

                            Norte a sul deste Brasil

                            Sobrevivo à desgraça

                            O Flamengo me motiva

                            Como uma locomotiva

                            Arrastando a cabaça.

Pó-de-arroz            Não vejo motivação

                            Nem sei o que você pensa

O que falam do seu time

É exagero da imprensa

Com disposição e tática

                            Conhecido como a máquina

                            O meu Flu é minha crença

Urubu               Nem você vai duvidar

                            Da força da minha camisa

                            Quando o manto cai no corpo

                            A nação rompe divisa

                            Torcida ganha no canto

                            Você reza para o santo

                            Encolher sua baliza.

Fim de jogo. Empate. O narrador retoma a palavra e encerra essa discussão interminável, como todas as disputas entre Flamengo e Fluminense.

O céu já escurecia

Entre as nuvens esparças

Como uma ação de graças

O azul se esmaecia

Já caindo na baía

Muitos passos se ouviam

Do estádio eclodiam

Quase num total nirvana

Relembrando todo o drama

Um dia retornariam

Tão difícil de esquecer

A peleja mais amada

O confronto insuperável

A partida mais sagrada

Hóstia que tremeu a rede

Cálice que mata a sede

Da turba em retirada

(…)

Quem já foi a um Fla Flu

Sabe então como é incrível

Este jogo irresistível

No maraca ou em Bangu

Mesmo em Nova Iguaçu

Tudo é sobrenatural

Algo tem de especial

Com chuva, mesmo calor

Tem aroma, tem sabor

Dia assim não tem igual..

E para vocês, quem ganhou essa peleja futebolística?

Mais de Roberto Carlos

por Vitor Rebello

Conforme ficou claro no último artigo, emprestado do blog de Arievaldo Viana, o cantor Roberto Carlos já foi tema de diversos folhetos de cordel. O mais interessante, porém, é que o rei Roberto ainda continua rendendo novas e novas publicações de nossos poetas populares, como é o caso do cordel intitulado Roberto Carlos: nosso eterno rei, de autoria do Isael de Carvalho. Morador de Petrópolis (RJ), Isael publicou em 2008 a seguinte biografia do cantor cachoeirano:

Bicho vou nesse cordel

Com detalhes e emoções,

Falar de Roberto Carlos

Que penetra os corações,

Com o eterno romantismo

Que contém suas canções.

Era hum mil e novecentos,

Dezenove, mês de Abril,

Ano de Quarenta e hum,

De presente pro Brasil,

Roberto Carlos nascia

Pra do amor ser servil.

O Roberto Carlos Braga,

Filho do Seu Robertino,

Para ser um grande rei

Ganhou de Deus um destino.

E sua mãe Dona Laura,

Quanto orgulho do menino!!!

Seu pequeno Cachoeiro

Foi o seu berço natal.

Com apenas nove anos

Já mostrava ser o tal,

Fez estréia numa rádio

Num programa matinal.

Aos quatorze de idade

Para o Rio se mudou,

Veio junto com seus pais

Em em Niterói se instalou,

Lá até primeiro ano

Do científico estudou.

Roberto em cinquenta e oito

Conheceu o “TREMENDÃO”

E no Rio de Janeiro

Cantou na televisão,

Começando a caminhada

Destino: Consagração.

Junto com Éramos Carlos

Em muitos clubes cantou

Quando ao “THE SPUTINIKS”

Nosso “BRASA” se integrou.

Pra “THE SNAKES” mais tarde

Nome do grupo mudou.

Trabalhando como crooner

Na boate do hotel Plaza,

Foi ficando conhecido

Esse nosso grande “BRASA”.

Já se sentia Roberto

No Rio estando em casa.

Roberto em cinquenta e nove

Com força do Imperial,

Seu amigo e conterrâneo,

Nosso Roberto afinal,

Com a carta do Chacrinha

Deu seu passo inicial.

E foi pela Polydor

Sua gravação primeira

Sete, oito rotações

Que seria a pioneira

De uma série que viria

Embalar sua carreira.

Gravando “FORA DO TOM”,

Também “JOÃO E MARIA”,

Roberto a essa altura

Seu caminho já fazia.

Seu destino de ser rei

Nas estrelas já se lia.

Após lançar o terceiro

Sete, oito rotações,

No ano de sessenta e hum

Reuniu doze canções,

Pra num primeiro “LP”

Caprichar nas gravações.

(…)

Pois é, parece que quando o assunto é Roberto Carlos a devoção não acabará nunca.

Para ler este cordel por inteiro, entre em contato com o autor Isael Carvalho (21) 9464-2591, ou procure nos melhores pontos de vendas de cordel. Vale lembrar que esta é uma publicação independente, sem editora, portanto, comprar o cordel ajuda diretamente o autor da obra.

Roberto Carlos na Literatura de Cordel

Por MARCO HAURELIO*
A polêmica desencadeada pela proibição, na Justiça, do livro Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César Araújo, revelou que sob os raios fúlgidos da pátria, a liberdade sorri para poucos. É a ditadura econômica, de que fala Chico Buarque, para a cultura bem mais nociva que a dos milicos. Por falar em ditadura e em Roberto Carlos, retornemos a 1965, mais precisamente a Osasco, grande São Paulo. Nesta cidade, antes de uma apresentação no cinema Rex (do latim: rei), encontraremos Roberto saudoso de uma namorada que, naquele momento, estava bem longe, nos States. O ruído provocado pelo dial de uma estação de rádio manipulado por sua secretária, Edy Silva, sugeriu uma melodia. E assim nasceu o refrão: “quero que você me aqueça neste inverno e que tudo mais vá pro inferno”. Com a providencial ajuda de Erasmo Carlos, a música estourou nos quatro cantos do país.
Vamos agora ao Nordeste brasileiro, a bordo de um velho ônibus, saído de Maceió com destino a Aracaju, no qual viajava o poeta popular Enéias Tavares dos Santos conduzindo uma mala repleta de folhetos de cordel e bugigangas diversas. Ao lado do poeta um rádio repetia a imprecação em forma de canção do então rei da juventude, nascida naquela noite fria em Osasco, de que falamos há pouco. O poeta ficou atento apenas ao refrão. Quando saltou na capital sergipana, estava pronto, faltando apenas passar para o papel, o folheto A Carta do Satanás a Roberto Carlos. Na fabulação de Enéias, cansado de ouvir o cantor mandar tudo para o inferno, Satanás resolve escrever-lhe uma carta, tentando demovê-lo da idéia:Inferno, corte das trevas,
Meu grande amigo Roberto,
Eu vi o seu novo disco
É muito bonito, é certo,
Mas cumprindo a sua ordem,
O mundo fica deserto.
E o soberano das trevas faz mais este apelo ao ídolo da jovem guarda:
Tem feito muito sucesso
Essa sua gravação
Mas eu já sofri até
Ataque do coração
Porque aqui no inferno
É de fazer compaixão.
Se para aqui vier tudo
Eu fico muito apertado
Pois o inferno já está
Por demais superlotado,
Você ganhando dinheiro
E eu ficando aqui lascado.

Importante é notar a ressignificação da música na interpretação do poeta popular. O cordel fez tanto sucesso que possibilitou a Enéias “pôr em dia os atrasados”, conforme depoimento ao poeta João Gomes de Sá. Negociado com a Editora Prelúdio, hoje Luzeiro, este folheto é editado ininterruptamente há mais de 40 anos. No seu rastro vieram a lume mais três títulos, todos de Manoel D’Almeida Filho: A Resposta de Roberto Carlos a Satanás; A Chegada de Roberto Carlos no Céu e Roberto Carlos no Inferno. Convém notar que, no inferno, as diabas se comportam como as jovens admiradoras do “rei” em sua corte terrestre:

As diabas moças gritavam
Como que ficaram loucas,
Todas pediam autógrafos,
De gritar ficaram roucas,
Porque não havia força
Que calasse aquelas bocas.

Mais conservador é Apolônio Alves dos Santos, autor do folheto A Mulher que Rasgou o Travesseiro e Mordeu o Marido Sonhando com Roberto Carlos. Outro grande poeta, Joaquim Batista de Sena, lamenta as mudanças ocorridas na Igreja Católica, imputando-as a Roberto e seus seguidores:

Vou chamar primeiramente
O grande rei do hippysmo
O senhor Roberto Carlos
Com todo seu cafonismo
Pois ele foi quem mudou
A lei do cristianismo.

A bibliografia sobre Roberto Carlos no Cordel é extensa e reflete a mentalidade do autor, com enfoque ora conservador ora liberal, indo do satírico à estória de exemplo. Manoel D’Almeida, por exemplo, era consultor da Editora Prelúdio, que além da boa literatura de cordel, editava a Melodias, a revista da mocidade, na qual Roberto era figurinha carimbada. Daí o tratamento simpático dispensado ao cantor capixaba. Joaquim Batista de Sena, por outro lado, refletia a mentalidade sertaneja, refratária a mudanças, especialmente as ocorridas no seio da Igreja.

Marco Haurélio é poeta popular, pesquisador e assessor da editora NOVA ALEXANDRIA. Também já atuou como selecionador de textos da Editora Luzeiro.
E mais:
Poeta Luiz Wilson lança novo cordel sobre ROBERTO CARLOS
Ano passado, o poeta Luiz Wilson lançou um  cordel intitulado: Roberto
Carlos, 50 anos, emoções em rimas, pela editora Luzeiro.
O que com amor se escreve
Certamente não se apaga
Entre as comemorações
E tudo que se propaga
Minha homenagem é fiel
Na linguagem do CORDEL
Pra ROBERTO CARLOS BRAGA!


Nota: Retirado do blog Acorda Cordel de Arievaldo Viana.

O 11 de setembro em cordel

Neste domingo, décimo primeiro dia do mês de setembro, não tem jeito de fugir da lembrança dos atentados terroristas. A televisão, o rádio, os jornais impressos não deixam… Todos fazem menção ao ataque às torres do World Trade Center como o maior atentado terrorista da história, num misto de lamentação e excitação. A busca pela audiência, por leitores, por ouvinte, enfim, por público, transforma a desgraça e a tristeza em espetáculo. É muito complicado perceber que de tantas rememorações daquele 11/9 de 2001, poucas sugerem críticas ao que se fez e ao que se ainda faz por aquele atentado. Infelizmente, o 11 de setembro tornou-se uma marca da ferida aberta ao norteamericanos, fazendo com que nos esqueçamos de um outro 11/9 acontecido há 38 anos no Chile, bem mais brutal, bem mais destruidor e bem mais canalha. Por outro lado, esta chancela de “maior atentado terrorista da história” mascara muitos outros crimes contra a humanidade cometida – pasmem! – pelos próprios seres humanos. O Holocausto da Segunda Guerra Mundial, a Diáspora Africana que migrou cerca de 15 milhões de africanos para servir como escravizados em todo o mundo, as próprias bombas de Hiroshima e Nagazaki, jogadas – como hoje se sabe – em um Japão sem forças, completamente liquidado. Enfim, tantas outras atrocidades da nossa história hoje ficam em segundo plano frente aos atendados de Bin Laden e cia.

Feita a crítica necessária à questão, retornemos a literatura, pois, a ela sim, vale a pena nos dedicarmos.

Que todos os temas possíveis são trabalhados pelos poetas populares, isso nós já sabemos. Nossa literatura de cordel apresenta uma multiplicidade incontável de assuntos (histórias maravilhosas, fatos históricos, biografias, opiniões, pelejas, romances, adaptações literárias, temas de utilidade pública, ficções científicas e tantas mais), mas uma das mais importantes é o fato jornalístico. Como disse Mestre Azulão no vídeo do post anterior, o cordel foi durante muito tempo o jornal do Sertão. E não apenas daquela região. Os cordelistas hoje espalhados por todo o país nos informam a todo momento das principais notícias. Muitas no momento dos acontecimentos, outras nem tanto, o que em geral permite uma maior reflexão do acontecido por parte do poeta. É justamente este o caso do 11/9. Pois, não é que Mestre Azulão, este verdadeiro vate das terras paraibanas e que hoje engrandece a Guanabara, resolveu escrever sobre o  famigerado atentado? É lógico que, vindo de Mestre Azulão (poeta que este blog é assumidamente fã), o cordel tinha que vir com críticas, muitas críticas sobre toda essa questão. Logo de início Azulão relembra suas próprias impressões sobre as torres de Nova Iorque, pois afinal de contas, ele as conheceu pessoalmente:

Terror nas Torres Gêmeas – José João dos Santos (Mestre Azulão)

Como poeta repórter
Nordestino Brasileiro
Descrevo neste cordel
Um lamentável roteiro
Do mais cruel fanatismo
Num ato de terrorismo
Que abalou o mundo inteiro

Uma môça americana
Muito educada e gentil
Veio até a minha casa
Fez-me um convite febril
Para ir ao Cite Lore
Entre cordel e folclore
Representar o Brasil

(…)

cordel de Azulão com xilogravura de Erivaldo

Foi no dia dez de Abril
De noventa e nove o ano
Eu andando em Nova York
Isento de qualquer dano
Subi até o terraço
Daquele monstro de aço
E orgulho americano

Foi no World Trade Center
Com seus cento e dez andares
Eu contemplando a altura
Avistei muitos lugares
Dando a impressão
Que estava de avião
Ou flutuando nos ares

Do seu enorme terraço
Olhei a imensidão
Eu vi que de Nova Jersey
Vindo em nossa direção
um pouco se desviando
Passava de vez em quando
Velozmente um avião

Eu pensei naquela hora
Refletindo em minha mente
Deus defenda um avião
Se chocar por acidente
Nestes prédios e explodir
Além de se destruir
Pode matar muita gente

Pois, Azulão previu o acontecimento. Embora proposital, ao invés de acidental, aquelas duas torres eram um alvo e tanto. E comenta o atentado terrorista:

Dois anos e cinco meses
Depois da minha visita
Terroristas portadores
De crueldade esquisita
Entre vinganças e tédios
Explodiram aqueles prédios
Ação cruel e maldita

(…)

É covarde e desumano
Quem faz atos de terror
Vingar-se de quem não fez
Maldade ou crime de horror
Uma ação injustamente
Fazer que o inocente
Pague pelo traidor

Passados alguns versos, o poeta faz algumas críticas à política de “combate ao terror” do governo estadunidense:

George Bush e seu império
Que quase o mundo governa
Com seus mísseis bombardeiros
Mata, destrói e inferna
Para Bin Laden encontrar
E sem perdão lhe matar
Com todos numa caverna

Mas só tem gastado armas
Helicóptero e avião
Bombardeando cidades
Mulher, criança, ancião
Toda aquela pobre gente
Indefesa e inocente
Porém Bin Laden não

Assim, minha gente, Mestre Azulão narra mais esta barbárie que impulsiona muitas outras mais. Sem deixar de lado o humor, o Mestre apresenta suas críticas e nos brinda com mais um interessantíssimo cordel. Como de praxe, finaliza com um acróstico, isto é, com versos que são iniciados pelas letras que fazem seu nome:

Não sou a favor do terror
Da morte e destruição
Mas quem fez ou faz maldade
Recebe a compensação
Não lembram os americanos
Que há cinquenta anos
Bombardearam o Japão

Milhares perderam as vidas
Ali num ato tirano
Zuada, grito e lamento
Um desastre desumano
Logo o fogo consumiu
Agonizou e feriu
O país americano

Em respeito ao autor,  é evidente que muitas estrofes ficaram de fora. Portanto, se houver interesse em ler este cordel na íntegra (vale muito a pena),  só comprando com o próprio Mestre Azulão, todos os domingos, na Feira de São Cristóvão, Rio de Janeiro. Ou então, ligando para o próprio a fim de encomendar. O telefone de contato é (21) 2664-2159 ou (21) 2664-3234.

por Vitor Rebello

Mestre Azulão faz o convite

As oficinas do ponto de cultura “De repente na praça” continuam com suas inscrições abertas. As aulas gratuitas de violão com Vicente Telles, moldura em barro com Etemilton, xilogravura com Erivaldo e literatura de cordel com Mestre Azulão acontecem em diferentes horários, em diferentes dias, ao longo de toda a semana. Excelente oportunidade para quem se interessa por artes, poesia, música ou pela cultura nordestina de modo geral. Em primeiro mão, apresentamos no lercordel um convite realizado por Mestre Azulão, na própria Feira, para todos que se interessarem. Salve Azulão! Seu pedido é uma ordem.

maiores contatos: Marcela 21 7577-7211 ou  derepentenapraca@hotmail.com

por Vitor Rebello

O Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, nome oficial da Feira de São Cristóvão, patrimônio cultural do Rio de Janeiro, maior feira nordestina fora da região que lhe dá a alcunha, está oferecendo oficinas inteiramente gratuitas para todos que estiverem interessados em aprender um pouquinho mais do Nordeste. O Ponto de Cultura “De Repente na Praça”, disponibiliza uma grande oportunidade de aprendermos com quem realmente sabe. As oficinas são de violão com Vicente Telles, cerâmica com Etemilton (escultor e figurante da Globo), Xilogravura com Erivaldo (grande artista, filho de Expedito) e de Literatura de Cordel com Mestre Azulão (indescritível mestre, dos maiores conhecedores de literatura do mundo). Apesar de imperdíveis, as oficinas ainda estão muito vazias, o que é uma grande pena devido à qualidade dos oficineiros. Desta maneira, procurando incentivar as inscrições, este humilde pesquisador que escreve criou alguns simples versos em septilhas.

Eu tenho pra vocês uma

Dica em primeira mão

É furo de reportagem

Preste muita atenção

A Feira dos nordestinos

Convida os citadinos

Pr’uma experimentação

Lá dentro do Pavilhão

Do bairro imperial

Tem oficinas gratuitas

De cultura colossal

Transmitida às crianças

Saberes que são lembranças

De um povo sem igual

Patrimônio cultural

Da terra guanabarina

Arquitetura arrojada

Sem pilastra, sem esquina

O Centro Luiz Gonzaga

De Tradições, repropaga

Morte e vida severina

O “De repente na Praça”

É um ponto de cultura

Oferece aulas com mestres

De grande desenvoltura

Tem barro, tem poesia

Violão com maestria

Tem até xilogravura

Interessante mistura

Xilogravura e repente

Artes que são inventadas

Com poder da nossa mente

A argila é moldada

Pela viola inspirada

Do talentoso Vicente

Os dias daqui pra frente

Serão muito mais bonitos

Etemilton e Erivaldo

Dois artistas eruditos

E também Mestre Azulão

Maior representação

Dos saberes infinitos

Não foram muitos inscritos

No decorrer da semana

Parece qu’inda tem vaga

Isso com certeza engana

Com os mestres estudar?

É o mesmo que perguntar

Se macaco quer banana.

Quem se interessar deve entrar em contato com Marcela (21) 7577-7211 ou pelo email derepentenapraca@hotmail.com Os horários diferem a cada oficina, fiquem ligados!por Vitor Rebello

E nesta sexta…

Especialmente….